A HISTÓRIA QUE MOLDA CADA EVENTO
No coração de Vairão, sobre os antigos vestígios do Castro do Boi, ergue-se a Casa do Alferes. Fundada por Manuel de Azevedo Alferes no final do século XIX — numa propriedade ligada às freiras do convento de Salvador de Vairão desde 1791 — esta casa é testemunha viva de gerações que preservaram excelência e história.
A relevância social de Manuel de Azevedo Alferes devia-se não só à sua abastança, mas também ao prestígio da sua família. O irmão sacerdote servia como pároco da freguesia vizinha de São Salvador de Modivas, sob jurisdição do mosteiro de Vairão, o que reforçava ainda mais a posição da casa.
Esse reconhecimento valeu-lhe o posto de Alferes das milícias locais, um cargo de grande influência, que o colocava em contacto direto com patentes superiores e o tornava responsável pela defesa do território.
Embora não existam registos oficiais, é plausível que tenha desempenhado funções militares durante as Invasões Francesas (1808). Nessa época, as tropas napoleónicas, comandadas por Lorges, tentaram atravessar o Rio Ave pela Ponte do Ave — mas encontraram forte resistência local, possivelmente liderada pelo próprio Alferes.

Erguida em solo fértil e bem drenado, a Quinta do Alferes apresenta-se como uma propriedade murada de estilo rural da Maia, com muros altos de pedra. A casa principal, de três pisos, preserva a beleza austera da arquitetura tradicional, revelando-se ainda hoje como símbolo de resiliência e autenticidade.

A história da Quinta do Alferes revela-se em cada detalhe: na disposição dos estábulos e das lojas, na eira e na adega, no jardim desenhado ao gosto de um emigrado regressado do Brasil, e sobretudo no grande arco central — de volta inteira — que ligava o caminho ao coração da casa familiar.
A primeira construção, mais modesta e de feição rural, já não existe. Mas a atual permanece como exemplo genuíno das casas de lavoura que marcaram a paisagem da antiga Terra Maia e que ainda hoje se destacam no concelho de Vila do Conde.
A sua recuperação e adaptação a novas funções, preservando as originais, é prova de que o passado pode coexistir harmoniosamente com as exigências da vida moderna. Porque o património, mais do que pertença de uma família, é herança de todos.
Hoje, a Quinta une passado e presente com elegância. Espaços carregados de história reinventam-se para acolher momentos modernos — provando que o património não pertence apenas a quem o construiu, mas a todos que nele celebram a vida.